Descriçao do Blog: Bem vindo ao Mandacaru Florido - A Literatura em Sergipe!

Este espaço pretende divulgar e dialogar com os interessados na Literatua Sergipana, uma produção artística carente de um acervo bibliográfico atualizado, que aproxime o público dos artistas renomados que produziram/produzem em Sergipe. Assim, toda contribuição através de artigos de escritores sergipanos será bem vinda. Alerto que os artigos aqui apresentados são de mestres e doutores, e quase que exclusivamente, são referências de textos publicados nos periódicos e anais de eventos promovidos pela UFS. Este é so o passo inicial.

Acervo sobre Tobias Barreto

1- Essa página possui textos do poeta Tobias Barreto obtidos na ABL bem como uma sucinta biografia e principais características de sua obra.


O fundador do condoreirismo brasileiro
 
 O seu clima foi o da luta. O seu mundo, as investigações do saber... Acreditou na Beleza e na Verdade. Foi um poeta. Um poeta que se alteava, em vôos condoreiros... (CABRAL apud BARRETO, 2004, p. 443).
     Tobias Barreto de Meneses nasceu em Vila de Campos do Rio Real, em 7 de junho de 1839,em Sergipe e morreu em 26 de junho de 1889 em Recife. Tobias Barreto foi filósofo, poeta, crítico, jurista e fervoroso integrante da Escola do Recife (movimento filosófico de grande força calcado no monismo e evolucionismo europeu).
    Suas "Obras Completas", editadas pelo Instituto Nacional do Livro, incluem os seguintes títulos:
"Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica", 1875.
"Brasilien, wie es ist", 1876.
"Ensaio de pré-história da literatura alemã". "Filosofia e Crítica". "Estudos Alemães", 1879
"Dias e Noites", 1881.
"Polêmicas", 1901.
"Discursos", 1887.
"Menores e Loucos", 1884.
      Em 1882, Barreto foi selecionado, por meio de concurso público, para uma cátedra na Faculdade de Direito do Recife. Hoje, em sua homenagem, a Faculdade de Direito do Recife é carinhosamente chamada de "A Casa de Tobias".
          Tobias Barreto é referido como uma das mentes mais brilhantes do século XIX. Um homem que vivendo sob as condições mais adversas no interior de Sergipe e depois no de Pernambuco foi capaz de aprofundar os conceitos sobre diversas áreas do conhecimento como Literatura, Cultura, Sociologia, Antropologia, Leis jurídicas. Entretanto, seus pensamentos não o conduziram ao sucesso pessoal ou profissional. A condição de mestiço e pobre o refutou constantemente de suas investidas amorosas e profissionais. Destino diferente do “seu adversário” Castro Alves. Apesar de ser sabido, conforme Sílvio Romero, a superioridade do sergipano.
    Tobias Barreto morreu aos 50 anos numa situação de miséria. Tal aspecto denuncia o quanto a questão de cor, classe e até regional era relevante numa sociedade pautada nos preceitos patriarcais do homem branco, rico e morador do sudeste do país, onde situava a oligarquia real e a elite intelectual. E nesse sentido, verifica-se que o poeta sempre lutou contra o autoritarismo que impera em tudo que se pretende hegemônico. Talvez por isso ele tenha se interessado pela cultura e pensamento alemães em vez do francês que era modelo para os intelectuais brasileiros naquele momento.       Para os interessados na obra de Tobias Barreto sugiro a leitura de Dias e Noites. Neste livro, o leitor se depara com o máximo grau de expressividade do seu pensamento, de suas emoções diantes das mais distintas situações que um indivíduo de um país colonizado e mestiço pode viver. Porém, sem se abater dianto dos infortúnios.
    O poeta sergipano "foi uma complexa estrutura cerebral, um farol que luziu no centro da brasilidade" (CABRAL apud BARRETO, 2004, p. 443). Mas, que até hoje, é colocado numa posição marginal pela crítica literária, que considera a forma de suas poesias uma expressão peculiar do cotidiano. "Tobias Barreto, contudo, foi um perfeito representante do romantismo brasileiro, elaborou o verso branco, a poesia polimétrica" (CABRAL apud BARRETO, 2004, p. 445).
      Através de suas poesias de inspiração naturalista, amorosas, patrióticas, estéticas e satíricas, (cf. ROMERO apud BARRETO, 2004). O leitor pode ouvir as vozes de diferentes eu-líricos em divergentes circunstâncias do viver, e assim, ele pode sentir toda a emoção advinda da junção de descrição e lirismo, habilidade técnica em que o poeta é uma referência. "O seu lirismo é um lirismo sadio, sem derrames exagerados nem queixumes excessivos. É justamente isto que o põe em relevo entre os poetas do tempo" (CABRAL apud BARRETO, 2004, p. 451).      Que tal voltarmos um pouco no tempo e analisarmos a atualidade de seus questionamentos mais de um século depois. O Brasil é sempre reportado como uma nação ímpar em suas riquezas naturais, o céu mais belo, a flora e a fauna mais diversificada, o solo mais rico: pré-sal, jazidas de minérios em grande proporção mundial. Mas, o seu povo? Os seus governantes?  
 
Por que não te ergues, ó Brasil fecundo,
Por vastas ambições, por fortes brios?
Que glória é esta de mostrar ao mundo,
em vez de grandes homens, grandes rios?
     A estrofe expressa bem toda sua capacidade de satirizar, ou seja, polemizar, expor as verdades amargas da vida. "O satírico é um insubmisso, o que sentindo a injustiça do destino põe-se a blasfemar, põe-se a injuriá-lo" (CABRAL apud BARRETO, 2004, p. 466).
    Como se percebe, Tobias Barreto foi um poeta singular, um indivíduo que viveu assujeitado ao preconceito de cor. Um intelectual incompreendido pela grandeza e imperativos de um pensamento interiorano-nacional com ímpetos de universal. Um brasileiro que não foi acolhido pelos seus conterrâneos, pelos intelectuais da época, pelo seu país. Um poeta preterido pela forma que expressava as ideias, os pensamentos, ou seja, ele foi/é um verdadeiro brasileiro em vida. Contudo, a história o tornou imortal. Tobias Barreto é patrono da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras.

                                                                                                                       Joseana Souza da Fonsêca

  • Referência do texto acima: BARRETO, Tobias. Dias e Noites. São Cristóvão: Editora da UFS;Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2004.

2-Link de textos selecionados pela ABL: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=801&sid=339

  • O material a seguir é excepcional, destaca a importância do poeta sergipano para a cultura brasileira, além da filosofia e do direito.
3- BARRETO, Luiz Antônio. Tobias Barreto: Uma bio-bibliografia.
 Disponível em:
www.cdpb.org.br/tobias_barreto.pdf

4- MOREIRA, Marisol Santos. A recepção de Heinrich Heine em Tobias Barreto.
Disponível em:
http://www.apario.com.br/index/boletim36/Junggermanisten-Jovens%20germanistas.pdf

5- GENS, Armando. Um mapa geoliterário para Tobias Barreto: Escalas para um retrato.